Imagine um mundo onde o som de engrenagens em movimento e o assobio do vapor ecoam pelas ruas.
Em vez de carvão e petróleo, é o vapor que impulsiona máquinas e invenções deslumbrantes, transformando a face da sociedade.
Essa é a essência do steampunk: um universo retrofuturista onde tecnologia e estética se fundem em uma visão fascinante do passado que nunca existiu — mas poderia ter existido.
O steampunk é muito mais do que uma alternativa à nossa história industrial; é uma viagem criativa que mistura romance, aventura e um toque de mistério, oferecendo um escape para quem se deixa seduzir pela ideia de um mundo movido a engenhosidade e inovação.
É só a ponta do iceberg, pois esse gênero é rico em detalhes, estilos, e uma arquitetura própria, que faz dele um dos cenários mais envolventes da ficção.
Neste post, exploraremos as principais características do steampunk, mergulhando nas tecnologias e ideais que tornam essas histórias únicas.
Prepare-se para descobrir engenhocas improváveis, sociedades curiosas e uma estética inconfundível.
Pronto para embarcar nesta jornada?
Leia também: Os 10 Melhores Filmes de Fantasia de Todos os Tempos
O futuro do passado: definindo a estética steampunk
Um dos elementos centrais do steampunk é o fascinante paradoxo tecnológico que ele cria.
Em um primeiro olhar, sua estética vitoriana — com trajes de época, acessórios refinados e uma arquitetura de outros tempos — nos transporta para o passado.
No entanto, a tecnologia presente nesse universo é surpreendentemente avançada, muito além do que existia durante a Era Industrial.
Imagine dirigíveis monumentais cruzando o céu, robôs mecânicos operando com precisão, ou mesmo hologramas de mapas detalhados — tudo movido a vapor e engenhosidade mecânica, sem a necessidade da eletricidade moderna.
É como se o futuro tivesse se desenvolvido a partir das invenções do século XIX, sem nunca abandonar suas raízes no passado.
Essa combinação intrigante é o que faz com que o steampunk seja conhecido como “o futuro do passado”: um mundo onde o antigo e o futurista coexistem em perfeita harmonia, criando cenários únicos e inesquecíveis.
Leia também: Os Melhores Filmes de Ficção Científica de Todos os Tempos
A Inglaterra Vitoriana como pano de fundo para histórias steampunk
A Era Vitoriana, período em que a Rainha Vitória governou a Inglaterra, de 1837 a 1901, foi uma época de profundas transformações.
Ela veio logo após a Revolução Industrial, e, com isso, trouxe uma intensa exploração do capital sobre o trabalhador, alimentando uma sociedade profundamente desigual.
O crescimento das cidades e das fábricas trouxe progresso, mas também conflitos sociais e econômicos que marcaram essa fase da história.
Foi também um período de grande avanço científico e intelectual.
Com nomes como Charles Darwin e Sigmund Freud, o pensamento crítico, o individualismo e a filosofia começaram a desafiar antigas concepções, lançando novas luzes sobre o mundo.
No entanto, apesar desse florescimento intelectual, a sociedade vitoriana mantinha valores conservadores: moralismo sexual, uma forte religiosidade e regras rígidas de conduta social ainda moldavam a vida cotidiana.
Essa contradição — entre inovação e conservadorismo, ciência e religião, luxo e pobreza — é a essência da sociedade vitoriana.
E é justamente esse contraste que o steampunk explora de forma criativa, trazendo o embate entre classes sociais, entre tradição e progresso, entre o moralismo e o espírito de vanguarda.
No steampunk, vemos essas forças opostas convivendo e, muitas vezes, se chocando, o que enriquece o gênero e o torna ainda mais fascinante.
Leia também: Séries Mais Aguardadas de 2024: Estreias e novas temporadas
Um novo combustível: a grande reimaginação do steampunk
Como mencionamos no início deste artigo, o steampunk nos leva a uma reflexão instigante: e se, em vez de carvão e petróleo, o vapor tivesse sido o principal combustível para o desenvolvimento das nossas tecnologias?
Esse conceito não apenas redefine o cenário tecnológico, mas também cria uma visão completamente nova sobre a própria relação entre sociedade e ambiente.
Nesse universo, o ar torna-se uma força quase viva, onipresente e transformadora.
Os céus são dominados por dirigíveis grandiosos, aeronaves que parecem saídas de um sonho (ou de um pesadelo) de um engenheiro vitoriano.
Essas embarcações aéreas, ao mesmo tempo elegantes e imponentes, são movidas pelo poder do vapor, reforçando o papel do ar como símbolo de liberdade e, paradoxalmente, de opressão, já que a poluição toma conta do ambiente.
A fumaça expelida pelas máquinas cria um cenário cinzento, onde as nuvens de vapor e poluição obscurecem o horizonte e tingem de nostalgia e melancolia cada aspecto desse mundo.
A poluição atmosférica não é apenas um detalhe estético nas histórias steampunk, mas uma parte fundamental de sua mensagem crítica.
Ela reflete as consequências de uma tecnologia que evolui sem preocupações ecológicas, propondo uma reflexão sobre o preço do progresso desenfreado.
Enquanto o vapor traz um senso de poder e avanço, ele também denuncia os efeitos da industrialização: o ar carregado de fuligem e partículas se torna um símbolo das desigualdades sociais, pois os trabalhadores que operam as máquinas muitas vezes vivem imersos nessas condições insalubres, enquanto as elites desfrutam do glamour da tecnologia em ambientes mais controlados.
Além disso, a presença constante de ar e vapor no steampunk também serve como uma metáfora para a fragilidade do mundo industrial: apesar de toda a força que impulsiona esses maquinários, eles dependem de algo tão etéreo quanto o ar, criando um contraste entre a solidez das engrenagens e a volatilidade do vapor que as alimenta.
Essa dualidade entre solidez e fugacidade é uma metáfora poderosa, representando tanto a ambição quanto os limites da tecnologia humana.
Assim, o ar no steampunk vai além de uma simples ambientação; ele é um personagem crucial, moldando as histórias e carregando consigo temas como o preço da modernização, a luta entre classes e a relação delicada entre humanidade e natureza.
É um mundo onde cada respiração traz consigo um pouco da história do vapor, uma lembrança constante de que o avanço tecnológico, por mais inspirador que seja, também pode trazer consequências sombrias.
Leia também: 10 Filmes de ficção científica antigos que você PRECISA ver
Os limites da ciência e como o steampunk discute ética
Como vimos, a Era Vitoriana foi um período de grandes avanços científicos, onde novas descobertas e invenções surgiam a um ritmo alucinante.
No entanto, muitos desses progressos vieram de experimentos conduzidos sob pouca ou nenhuma fiscalização.
Esse cenário de liberdade descontrolada para a ciência é um dos pilares centrais do steampunk, onde a imprevisibilidade científica e a figura do “cientista louco” se destacam.
No universo steampunk, a ciência é uma força tanto criativa quanto destrutiva, movida por uma curiosidade quase obsessiva que muitas vezes ignora as questões éticas e os possíveis riscos.
A figura do cientista excêntrico — aquele que se isola em laboratórios repletos de tubos de ensaio, engrenagens e fumaça, realizando experimentos de resultados incertos — aparece com frequência por uma razão: ele encarna a própria natureza da ciência vitoriana, que, embora fascinante e revolucionária, também era perigosa e moralmente ambígua.
Na prática, esses cientistas quebravam tabus e testavam os limites do conhecimento em nome do progresso, sem considerar plenamente os impactos de suas criações.
Suas invenções e experimentos muitas vezes desafiavam a moral da época e até mesmo colocavam em risco a vida das pessoas, o que levanta uma série de questões filosóficas e éticas.
O steampunk, ao incorporar essa imprevisibilidade, nos faz refletir sobre o custo do progresso e os dilemas que cercam a ciência.
Assim, ao se aventurar em uma obra steampunk, você encontrará temas como a moralidade do cientista, os limites do saber e o quanto estamos dispostos a sacrificar em nome do avanço.
Em um mundo onde o vapor e a engenhosidade humana são os motores da inovação, a ciência é tanto uma promessa de grandeza quanto uma ameaça, e cada experimento traz consigo o risco de consequências devastadoras.
Esse dualismo entre a esperança no progresso e o medo das repercussões cria uma narrativa rica e provocante, onde a ética científica e o preço do conhecimento são constantemente questionados, nos lembrando que todo avanço traz consigo um custo — e cabe à humanidade decidir se está disposta a pagá-lo.
Leia também: Séries e filmes de hacker que você precisa conhecer
steam… PUNK?
Mas nem só de “steam” vive o gênero.
Afinal, o que é o “punk” no steampunk? Bom, essa é uma história rica e multifacetada.
O “punk” é um movimento que transcende categorias, deixando sua marca em mídias como música, moda, cinema e literatura.
Originalmente, o termo surgiu para definir grupos ou indivíduos que rejeitavam as normas sociais, adotando uma postura antissocial e desafiadora.
Na década de 1970, “punk” passou a representar bandas e jovens que criticavam ferozmente o estilo de vida da sociedade ocidental — seu consumismo, capitalismo e conservadorismo.
Esses jovens expressavam sua revolta através de um visual impactante, marcado por roupas “subversivas”, como calças rasgadas, piercings, tatuagens e penteados incomuns.
Punk, em resumo, é o movimento dos marginalizados, dos que desafiam o status quo.
Essa essência rebelde e desafiadora permeia o steampunk, assim como outros gêneros com a mesma raiz, como cyberpunk e dieselpunk.
O “punk” reflete o ponto de vista das pessoas à margem da sociedade vitoriana: garotos de rua, ladrões, inventores excêntricos e outras figuras excluídas.
São esses personagens que vivem no limite da sociedade, movidos por uma desconfiança ou mesmo um desprezo pelas estruturas dominantes e pelas normas de uma sociedade rígida e desigual.
Esse espírito de contestação, combinado com o cenário social da Era Vitoriana, cria histórias onde o contraste de classes se intensifica: enquanto a aristocracia se beneficia das invenções tecnológicas, as classes mais baixas muitas vezes vivem à sombra delas, lidando com suas consequências e explorando seus limites.
É aí que o steampunk se torna uma fusão entre a nostalgia por um passado inventivo e o desejo de resistir às normas impostas, imaginando mundos onde aqueles que vivem à margem da sociedade — os “punks” — protagonizam suas próprias histórias.
Dessa forma, o steampunk é mais do que uma fantasia retrofuturista: é uma crítica social e uma celebração da individualidade e da resistência.
Leia também: Os melhores episódios de Black Mirror para te assustar
Obras para conhecer o steampunk
É claro que um artigo sobre steampunk não estaria completo sem algumas indicações de obras essenciais do gênero!
Abaixo, você encontrará uma seleção de filmes, séries, livros e jogos que vão te transportar direto para o “futuro do passado” e abrir as portas para esse universo fascinante.
Arcane (Série)
Baseada no universo do jogo League of Legends, Arcane é um dos maiores expoentes do steampunk contemporâneo. Com uma animação impecável e 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, a série é um convite irresistível para explorar o gênero através de uma narrativa rica e visualmente deslumbrante. É uma ótima porta de entrada para quem quer entender como o steampunk se mescla ao universo de fantasia.
Dishonored (Jogo)
No mundo dos videogames, o steampunk encontrou um lar perfeito. Dishonored, um jogo de stealth em primeira pessoa, oferece uma imersão profunda em uma cidade steampunk cheia de intrigas políticas e tecnologias movidas a vapor. Além da narrativa envolvente, o jogo permite explorar elementos clássicos do gênero, tornando-se uma experiência única para entender a estética e a atmosfera steampunk.
Máquinas Mortais (Filme)
Embora o cinema raramente abrace o steampunk em sua essência, Máquinas Mortais, produzido por Peter Jackson, chega perto de ser uma obra genuinamente steampunk. A história se passa em um futuro pós-apocalíptico onde cidades móveis gigantes competem por sobrevivência, e a estética do vapor e das máquinas está presente em cada detalhe. Outros filmes, como Mad Max, Desventuras em Série e A Bússola de Ouro, tocam elementos do steampunk, mas Máquinas Mortais é o mais fiel ao gênero.
His Dark Materials (Série)
As séries têm mostrado cada vez mais interesse pelo steampunk, e His Dark Materials, da HBO, é um ótimo exemplo de como o gênero pode ser mesclado com fantasia. Baseada nos livros de Philip Pullman, a série explora temas como ciência e espiritualidade em um mundo com tecnologias e conceitos que remetem ao steampunk, criando uma atmosfera de mistério e fascínio.
Bioshock Infinite (Jogo)
Embora Bioshock Infinite não seja exatamente steampunk, ele é uma das melhores representações do conceito de “futuro do passado”. Ambientado em uma cidade flutuante com tecnologias arcaicas e grandiosas, o jogo oferece uma narrativa complexa e envolvente que explora temas filosóficos e sociais. A estética e a atmosfera de Bioshock Infinite são um prato cheio para quem quer entender o steampunk de uma maneira um pouco diferente.
O Grande Truque (Filme)
Este filme de Christopher Nolan não é totalmente steampunk, mas possui muitos elementos que evocam o gênero, especialmente com suas máquinas exóticas e atmosfera vitoriana. A rivalidade entre dois ilusionistas impulsionada por invenções científicas faz deste filme um exemplar interessante para quem gosta do estilo steampunk misturado com drama psicológico.
A Liga Extraordinária (Filme)
Baseado na série de quadrinhos de Alan Moore, o filme traz uma visão onde figuras icônicas da literatura vitoriana, como o Capitão Nemo e Dr. Jekyll, se unem para enfrentar uma ameaça comum. Com uma estética claramente steampunk, a trama explora tecnologias e invenções improváveis em um cenário alternativo do século XIX.
Wild Wild West (Filme)
Embora tenha um toque de humor, este filme protagonizado por Will Smith é essencialmente steampunk, com engenhocas extravagantes e uma estética de Velho Oeste reinventada. Para quem busca algo mais leve e divertido, é uma opção divertida dentro do gênero.
A Máquina Diferencial (Livro)
Esse romance é uma leitura essencial para fãs de steampunk, sendo um dos primeiros a explorar o conceito de um passado alternativo em que Charles Babbage construiu com sucesso sua máquina diferencial, dando início a uma revolução tecnológica movida a vapor em pleno século XIX.
O Circo Mecânico Tresaulti (Livro)
Esse romance apresenta um circo itinerante em um universo steampunk onde artistas e engenhocas convivem em uma atmosfera sombria e poética. A narrativa tem uma qualidade etérea que captura o estilo steampunk de uma forma encantadora e original.
Leviatã (Livro)
Esse romance jovem-adulto se passa em um mundo alternativo da Primeira Guerra Mundial e traz uma guerra entre nações que dependem de máquinas gigantes e criaturas modificadas geneticamente. A mistura de tecnologia steampunk e biotecnologia faz dessa série uma leitura envolvente e única.
Fullmetal Alchemist (Mangá e Anime)
Embora seja um mangá e não tenha o cenário vitoriano clássico, Fullmetal Alchemist carrega diversos elementos steampunk, como próteses mecânicas e um sistema tecnológico alternativo movido pela alquimia. A série explora temas de ética científica e as consequências de um progresso descontrolado, típicos do steampunk.
Lady Mechanika (Quadrinhos)
Essa série de quadrinhos acompanha uma mulher com partes mecânicas que busca desvendar mistérios e enfrentar criaturas incomuns em uma versão alternativa da Era Vitoriana. Com uma estética rica e personagens fascinantes, Lady Mechanika é uma leitura perfeita para fãs de steampunk que buscam uma heroína forte e cheia de estilo.
Essas obras são apenas o começo do universo steampunk, mas cada uma oferece uma visão única do gênero.
Quer você seja novo no steampunk ou um fã buscando expandir seu repertório, essas indicações prometem levar você a mundos cheios de invenção, contraste e a eterna luta entre tradição e progresso.
Agora que você entendeu tudo sobre o steampunk, que tal aprender um pouco sobre um gênero parecido que utilizar de uma estética totalmente diferente para discutir os mesmos problemas?
Dá uma conferida no nosso post completo sobre o CYBERPUNK: O futuro da tecnologia: o que o Cyberpunk nos ensina